Não é novidade para ninguém que o uso excessivo de antibióticos (ou o tratamento incorreto) pode criar bactérias multirresistentes ou as chamadas superbactérias, que resistem a vários tipos de medicamentos.
Essas bactérias que não respondem a antibióticos vêm aumentando a passos alarmantes no Brasil e já são responsáveis por cerca de 23 mil mortes anuais no país.
Esses organismos infectam pacientes geralmente debilitados e se espalham rapidamente pela falta de antibióticos capazes de destruí-los.
As superbactérias são consideradas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) a próxima grande ameaça global em saúde pública.
Mas será apenas o uso abusivo dos antibióticos o responsável pelo aumento da quantidade das superbactérias?
Parece que não.
Veja esta notícia: estudo publicado na revista “Environment International” sugere que um ingrediente comum na pasta de dentes e no sabonete líquido – o triclosan – pode ser responsável pelo crescente número de casos de resistência bacteriana aos antibióticos.
O triclosan é um composto químico utilizado em mais de 2.000 produtos de higiene pessoal, como sabonete líquido, pasta de dentes, enxaguante bucal, desodorante e creme hidratante.
O antisséptico tem sido associado ao aparecimento de doenças cancerígenas em animais.
A equipe de investigadores da Universidade de Queensland, na Austrália, se surpreendeu com a descoberta de que outros químicos pudessem interferir no aumento dos casos de resistência antibiótica.
Mas algo a mais chamou a atenção do cientista Jianhua Guo, líder do estudo.
As águas residuais de áreas residenciais possuem níveis semelhantes ou mesmo superiores de bactérias resistentes a antibióticos em comparação com as águas dos hospitais.
Daí vem o questionamento: será que produtos químicos não antibióticos e antimicrobianos, como o triclosan, poderiam causar diretamente a resistência a antibióticos?
Tudo indica que sim.
O triclosan tem efeitos que vão além das suas propriedades antimicrobianas.
Em laboratório, este químico pode, por exemplo, tornar algumas bactérias mais fortes e mais difíceis de matar.
Suspeita-se, assim, que o composto possa também adulterar o sistema imunitário, alguns hormônios e até afetar a fertilidade do ser humano.
Vale lembrar que o triclosan é utilizado em quantidades elevadas diariamente, por estar presente em vários produtos de uso quotidiano.
Fato preocupante, não é mesmo?
Calcula-se que as superbactérias matem atualmente cerca de 700.000 pessoas por ano no mundo, número que poderá aumentar para 10 milhões em 2050, segundo a OMS.